sexta-feira, 31 de maio de 2013

Pesquisa analisa representação de jovens frente às UPPs

Pesquisa analisa representação de jovens frente às UPPs

Publicada em 
Com o objetivo de analisar as representações de jovens moradores do conjunto de favelas do Complexo do Alemão sobre o processo de implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) em seus locais de moradia, foi apresentada, na ENSP, a dissertação de mestrado em Saúde Pública As representações de jovens moradores do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro sobre a implantação das UPPs
Desenvolvida por Juliana Silva Corrêa, a pesquisa buscou compreender as percepções dos jovens acerca da nova regulação do espaço das favelas pelas forças de manutenção da ordem. Entre os resultados obtidos está a adoção, pelo segmento juvenil, de estratégias para o enfrentamento da violência.Juliana explicou que a ideia do desenvolvimento do estudo para o mestrado surgiu em razão de sua inserção na pesquisa Juventudes, Desigualdades e o Futuro do Rio de Janeiro, elaborada pelo Núcleo de Excelência para o Estudo da Juventude. 

A proposta foi realizar um balanço sobre a situação dos jovens no Estado do Rio de Janeiro visando avaliar as perspectivas para o futuro e acompanhar os processos de construção de identidade, anseios e projetos de vida da população jovem. Segundo Juliana, nessa pesquisa, ela teve contato com jovens moradores das favelas Santa Marta - localizada na zona sul da cidade, a primeira favela a receber o projeto das UPPs – e Complexo do Alemão, zona norte da cidade, que, na época, estava ocupado pelas forças de Pacificação do Exército. “O que despertou minha atenção foi o fato de que, nas duas favelas, os discursos dos jovens sobre as mudanças em seus cotidianos eram bem parecidos, apesar de serem contextos geográficos bem distintos. Essas questões acabaram motivando a delimitação do meu objeto de estudo, culminando no desenvolvimento da dissertação de mestrado, na qual optei por desenvolver exclusivamente no Complexo do Alemão”, explicou.Foram entrevistados 13 jovens, entre 18 a 24 anos, para compor a amostra da pesquisa. 

As representações de jovens moradores do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro sobre a implantação das UPPs foi orientada pela pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz, Fátima Regina Cecchetto, e pela professora da Escola de Serviço Social da UFRJ, Patrícia Silveira de Farias. Os jovens foram ouvidos no intuito de compreender como eles vivenciaram o processo de implementação das UPPs, tendo como foco suas representações sobre as forças de manutenção da ordem. Segundo Juliana, “não é simples avaliar percepções de uma experiência em curso. As opiniões se modificam, inclusive de acordo com interferências de acontecimentos alheios à vontade dos jovens”.

Resultados apontam percepção dos jovens

A pesquisa levou em consideração as representações dos jovens a respeito da implantação das UPPs. O olhar sobre saúde foi realizado por meio da compreensão acerca de algumas formas de violência, com as quais os jovens lidam durante o seu cotidiano. Segundo Juliana, partiu-se do reconhecimento da violência como um fenômeno complexo, que interfere nos determinantes sociais da saúde dos grupos, na garantia de um ambiente seguro, pré-requisito e condição fundamental para a saúde.

Os resultados do estudo apontaram que, na percepção dos jovens entrevistados, uma das principais mudanças provocadas a partir da instalação das UPPs foi a diminuição dos tiroteios e dos confrontos violentos entre policiais e traficantes e seu impacto na vida dos moradores em geral.

Entre outros aspectos, os resultados da pesquisa apontam também para as percepções dos jovens sobre uma nova regulação do espaço das favelas, exercida pelas forças de manutenção da ordem e considerada por eles de forma muito autoritária e arbitrária. Os jovens alegam que suas formas de expressão e sociabilidade têm sido duramente criminalizadas e penalizadas em função disso.

Segundo a autora, a “percepção dos jovens de serem o alvo privilegiado da suspeita e não os sujeitos da proteção policial colabora para as posturas reticentes à busca dos serviços prestados pelos policiais”. Tal configuração é alimentada pelas constantes abordagens que passaram a fazer parte do cotidiano com os agentes de manutenção da ordem. A respeito disso, ressalta que as experiências relatadas pelos jovens acabaram por revelar a existência de um padrão de abordagem seletivo preconizado pelos policiais, que incide de modo mais agressivo e frequente sobre os jovens rapazes e moças de cor/ “raça” negra.

Apesar disso, em se tratando do relacionamento com os policiais da UPP, os jovens mencionam uma postura mais cautelosa destes se comparados aos policiais “de rua”, ou seja, com a polícia militar tradicional que atuava anteriormente na localidade por meio das incursões. Com relação a esse aspecto, a autora observa que há um “equilíbrio tenso e precário das relações com os agentes de manutenção da ordem”, que é visto com desconfiança pelos jovens em razão da permanência de casos de abuso policial, truculência e violação de direitos. Além disso, “há um sentimento de incerteza em relação à permanência das UPPs como política de governo” citou. Essa postura, contudo, não reflete uma completa rejeição às UPP em si, mas implica, antes de tudo, como condição fundamental para o debate público, para que, de fato, aconteçam mudanças nos padrões conflituosos que tem pautado a relação entre jovens e policiais.

Outro resultado encontrado no estudo que merece a atenção foi o do afastamento de alguns jovens no circuito do tráfico de drogas. Segundo Juliana, esses jovens relataram a opção por interromper suas trajetórias na atividade criminosa após a instalação das UPPs. Assim, ressalta a demanda para a criação de políticas de inserção social desses indivíduos por meio do reconhecimento de que os jovens apresentam trajetórias marcadas por movimentos de experimentação que constituem as características típicas da juventude, na qual o ingresso no tráfico pode significar uma dessas experiências.

Por fim, a pesquisa apontou para estratégias utilizadas pelo segmento juvenil para o enfrentamento da violência, como a utilização do recurso das mídias sociais para publicização de denúncias, mobilização de protestos e reivindicação de direitos. Por meio dessas mídias, os jovens têm se articulado com redes de direitos humanos para discutir formas de enfrentamento dos problemas cotidianos vivenciados. Outra demanda apontada pelo estudo emerge da “necessidade de se colocar em discussão aspectos da interação polícia e jovens que levem em consideração os impactos da suspeição constante, do abuso policial e de outras formas de violência física e simbólica na subjetividade e na saúde dos jovens”, finalizou.

(Foto de capa: UPP/RJ)

Maioridade Penal em Questão - 04/06

Mesa Redonda

Programação: 

4/6, das 19h30 às 22h

Mesa redonda com:
Pe. Júlio Lancellotti (Arquidiocese de São Paulo)
Prof. Dr. Roberto Baptista Dias da Silva (Faculdade de Direito / PUC-SP)
Profa. Dra. Maria Cristina Vicentim (Departamento de Psicologia / PUC-SP)
Prof. Dr. Edson Passetti (Faculdade de Ciências Sociais / PUC-SP)

Local de realização: 
Pátio do Museu da Cultura / PUC-SP
* Em caso de chuva o evento acontecerá no Auditório 239
Campus Perdizes
Rua Monte Alegre, 984
Perdizes - São Paulo - SP
CEP: 05014-901
Fone: (11) 3670-8000 (PABX)

Público Alvo: 
Estudantes, professores, funcionários e demais membros da comunidade da PUC-SP.
Promoção: 
Museu da Cultura / PUC-SP
Profa. Dra. Dorothea Voegeli Passetti