segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A Escola e o despertar sexual do aluno


Segundo especialista, em geral, professores não estão preparados para orientar seus estudantes

Nathalia Goulart
O despertar precoce das crianças para o sexo desafia professores. Nas escolas, os mestres devem evitar a repressão e, ao mesmo tempo, conduzir um processo educativo que aborde valores, diferenças individuais e crenças. Isso é fundamental tanto na infância como na adolescência, quando a questão ressurge a todo vapor.
Para tratar do assunto delicado, os professores precisam de sensibilidade e principalmente preparo, defende Cláudia Bonfim, doutora em educação sexual pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "O professor deve se reeducar e entender que, nos dias de hoje, tudo acontece mais cedo com as crianças. Não é mais como nos tempos dele", afirma Cláudia. "Se isso não estiver claro para o mestre, a primeira reação dele diante de uma situação nova será de negação ou repressão: nenhuma dessas atitudes é eficiente para o desenvolvimento sadio do aluno."
Birgit Mobus, psicopedagoga do Colégio Suíço-Brasileiro, reitera: "Não basta dizer a uma menina que senta no colo de um aluno mais velho que aquele comportamento é inapropriado. É preciso ajudá-la entender as dimensões daquele gesto".
As dificuldades para lidar com as situações reais não são pequenas. Na razão do problema, estaria a falta de preparo. "Os professores precisam saber como transformar sua fala em uma ação educativa. Para isso, em geral, eles não estão capacitados", lamenta Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan de sexualidade, consultora do Colégio Bandeirantes, de São Paulo, e coordenadora do projeto-piloto Quebra Tabu, que implementa a educação sexual em quarenta escolas da rede pública de Alagoas.
Em sua pesquisa de doutorado, Claudia Bonfim descobriu que a questão é urgente. Segundo ela, 90% dos professores entrevistados não estavam preparados para lidar com questões relativas a crescimento e sexualidade dos estudantes, embora identificassem tais fenômenos.

Fonte: revista veja educação

2 comentários:

  1. Olá Regina que alegria ver a matéria que contém trechos de nossa entrevista aqui em seu blog. Complementando ressaltamos que tão importante quanto o aprendizado da leitura e da escrita do mundo, é saber ler a si mesmo e escrever sua história, conhecer o seu corpo, suas possibilidade e potencialidades, pois assim como adquirimos conhecimentos para transformar o mundo num lugar melhor, devemos conhecer nossa sexualidade para tornamos melhor o nosso mundo interno, o nosso corpo e nossa mente, que são o berço das significações da vida. Por isso, nossa defesa de que a Educação Sexual escolar supere sua abordagem sobre sexualidade pautada meramente nas noções biológicas, ou seja, no aprendizado da anatomia do corpo humano, seus órgãos e funções.
    Esta visão reducionista e genitalista da sexualidade consolida a visão da sexualidade mercantilista que reduz o corpo a um objeto, um produto, desumanizando das relações afetivo-sexuais. Como já apontamos, os conhecimentos biológicos também são necessários e importantes, mas não suficientes para a compreensão da totalidade da sexualidade, sendo assim, a Educação Sexual escolar, precisa, além da vertente corporal e de saúde preventiva, contribuir à formação de valores éticos e estéticos e para a crítica da forma banal, mercantilista e quantitativa que a sexualidade tem sido vivida nos dias de hoje.
    A escola nega o corpo da criança, enxerga como se ela fosse apenas uma cabecinha, aberta a ser um depósito, como na concepção de educação bancária que apontou Paulo Freire, onde serão depositadas as informações, os conteúdos programáticos. A criança é impedida de suas manifestações corporais, até mesmo as manifestações fisiológicas são contraladas, impedindo e estabelecendo horários para que a criança por exemplo, possa ir ao banheiro. Até mesmo, o levantar da carteira durante a aula é considerado muitas vezes como indisciplina.
    A escola quase sempre exclui o corpo da mente, separa, mutila. Apenas a cabeça tem que ficar na sala de aula, o corpo só na aula de educação física. Sempre dual, separado. Não conseguindo entender a totalidade do ser. Somos inteireza e não partes estanques, somos razão e subjetividade, somos seres biológicos e histórico-culturais. É no ambiente escolar, no contexto dessa tradição racionalista, que se desenvolve a noção de uma educação intelectual separada de uma educação corporal ou física sendo que ambas, destinando-se a dimensões consideradas opostas e inconciliáveis, ao serem justapostas - educação corporal e educação intelectual – compondo a chamada educação integral. Ainda consolida a visão cultural de gênero, separando meninas e meninas, impedido que se socializem, que se reconheçam igualmente como seres humanos. A Educação Sexual que queremos pauta-se numa abordagem que entenda a sexualidade de maneira saudável, prazerosa, bonita, natural e essencial em nossa vida. E que busque fornecer ao ser humano as ferramentas necessárias para que possa conhecer seu próprio corpo, o corpo do outro e compreender sua sexualidade para que possa por si mesmo ser capaz de realizar escolhas afetivo-sexuais de maneira livre, ética, responsável e consciente.

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