quinta-feira, 14 de março de 2013

Juventude, Violência e Políticas Públicas



“Não, não tenho caminho novo, o que tenho de novo é o jeito de caminha” (Thago de Mello).
A construção de um movimento de juventude de caráter popular é um desafio permanente, ainda mais quando o assunto violência emerge da dura vida nas periferias. Como conseguir conquistar corações jovens para um projeto de luta social diante das dificuldades em enfrentar o poder dos traficantes, milicianos, policiais militares e da prefeitura? Quais os meios para driblar o conservadorismo dos diretores de escola, a visão de mundo consumista alimentada pela grande mídia e a aversão pela política já enxertada no senso comum? Estas são perguntas tidas como comum para quem vem se esforçando em ajudar na transformação desta realidade e a combater o extermínio de jovens. É bom sinalizar que não falo de qualquer juventude, ela tem classe, cor e localidade específica, seus direitos não são garantidos, ou então só existem pela metade, seu acesso a saúde, educação e políticas de incentivo a cultura não existe de forma convincente. Com toda certeza, dialogar com esta juventude e encarar toda uma estrutura de violência moldada através de anos passa a ser a dificuldade mais latente para os jovens socialistas.
A partir de um mapa da violência produzido pelo CEBELA (Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos), podemos observar um processo de interiorização e nordestização da violência no Brasil, altos índices de homicídios começam a ser registrados em estados como Ceará, Pernambuco, Paraíba, Bahia, Pará e Alagoas. Enquanto que metrópoles famosas pelos seus altos números de homicídios, como a cidade do Rio de Janeiro e São Paulo, apresentaram certa queda em seus índices. Claro que toda esta estatística não representa sem erros a realidade, mas a tomaremos como base para entender o motivo por de trás disso tudo. O surgimento de novos pólos econômico e a migração das indústrias para as fora das grandes metrópoles está fortemente associado ao que foi descrito. Novos fluxos migratórios ocorrem e novas periferias são formadas, há a saturação dos empregos “formais” e a intensificação da desigualdade social. O aparecimento do narcotráfico, grupos de extermínio e milícias é o verdadeiro motivo e motor desse crescimento no número de mortos nessas regiões. Devido à sua pouca experiência e baixa competitividade na disputa por empregos formais, a juventude passa a buscar trabalho na economia do crime e logo se torna o principal alvo das balas dos policiais e dos traficantes rivais.
O atual modelo de política de segurança pública em todo o país está preso ao uso quase que exclusivo do policiamento. A sofisticação dessa receita deu origem à ocupação das favelas do Rio de Janeiro pelas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), que reduzem os índices de homicídio, mas que apenas joga para de baixo dos panos os verdadeiros problemas sociais presentes na cidade. Na Baixada Fluminense, região compostas pelos municípios periféricos ao Rio, estabeleceu-se ainda mais conflitos, ocasionados pela ida de traficantes cariocas para territórios já ocupados por outros grupos. Mesmo este fato sendo negado pela Secretaria de Segurança, limitada apenas à leitura de dados, este confronto ocorre com nitidez, testemunhado pelos moradores da Baixada. Com isso, estamos colocados cada vez mais diante da necessidade de organizar a juventude das periferias, tendo em vista o crescimento das desigualdades da violência. Onde a única política pública direcionada para a juventude são as armas da polícia e os presídios super lotados.
A direção encontrada para mudar essa realidade está depositada inicialmente no fortalecimento da educação, a iniciativa de fazer com que o espaço escolar volte a ser atrativo para a juventude não deve estar só nas mãos dos professores. A maior permanência dos estudantes nas escolas se mostra uma grande conquista na disputa de consciência dos jovens, a cultura cumpre um papel fundamental quando utilizada nessa demanda. Tornar a escola atrativa através da cultura tem se mostrado uma janela de possibilidades na luta contra a violência. A atuação conjunta com os Sindicatos Estaduais dos Profissionais em Educação (SEPEs) já se consolida como algo necessário e urgente. No bairro Centenário, em Duque de Caxias, por exemplo, foi tomada a decisão de fechar turmas no período da noite por conta da extrema violência recorrente no local. Infelizmente esta medida só ajuda a piorar a situação da juventude. A nossa luta precisa estar unida a dos professores, para encontrar alternativas que combatam de fato a violência no bairro, principalmente aquela que envolve a juventude.
Organizar, mobilizar primeiro dentro das escolas é um grande desafio, do qual não podemos fugir se quisermos realmente avançar na luta contra o extermínio da juventude, negra, pobre, descartável e negligenciada.

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